RESENHA ABORDAGEM HUMANÍSTICA
O desenvolvimento do que conhecemos hoje
como Relações Humanas se deu em uma época de grande euforia, causada pelo
crescimento econômico das grandes corporações. Essas corporações tiveram um
crescimento incomum para os padrões da época. A produtividade era alta e os
processos produtivos mais eficientes, tal que quando resolvidos os problemas
econômicos, as empresas passaram a preocupar-se com o atendimento dos problemas
humanos, basicamente com sua motivação, no intuito de aumentar a produtividade
pela mudança do paradigma administrativo.
Essa preocupação com as relações humanas
encontrou força na obra de Elton Mayo (1880-1949). Faria (2007) afirma que o
objetivo de Mayo (1933) é estudar as relações de trabalho em organizações
industriais com a finalidade de melhor qualificar uma elite administrativa capaz
de dirigir o processo de desenvolvimento em uma época de transformações
econômicas e problemas sociais. Mayo começou a se interessar pelas condições
externas e individuais que interferiam no processo de trabalho, estava
interessado nos efeitos do Taylorismo. A primeira pesquisa descrita por Mayo
foi feita em uma fábrica têxtil. Essa pesquisa foi empreendida para analisar as
condições de trabalho com o objetivo de planejar métodos de redução do
excessivamente alto turn over do
trabalho, o qual chegava a ser de aproximadamente 250%, ou seja, a fábrica
contratava cerca de cem operários para manter seus quarenta postos de trabalho
em funcionamento no ano. Foram feitas modificações na condução da pesquisa, e para Mayo este
experimento indicou que a existência de condições externas e individuais
interferem igualmente nos resultados. Porém, conforme coloca Faria (2007), em
relato posterior, fica evidenciado que o objetivo de Mayo (1945) era de
controlar os elementos internos e externos ao processo de trabalho de maneira a
aumentar a produtividade segundo o esquema de produção capitalista.
A pesquisa mais importante descrita por
Mayo é a realizada na Western Eletric Company, em sua fábrica de Hawthorne em
Chicago. Bertero (1968) observa que Mayo foi levado a condenar vários erros
básicos da Escola Clássica a partir dos resultados de suas pesquisas na
referida fábrica da Western Eletric. O objetivo inicial desse experimento era
de verificar a relação existente entre a intensidade da iluminação e a
eficiência dos trabalhadores, esta última medida pela produção, através de um
estudo comparativo entre dois grupos. Conforme destaca Roethlisberger (1941) em
um experimento os trabalhadores foram divididos em dois grupos. Um grupo foi
chamado de “grupo de teste” para trabalhar sob diferentes intensidades de
iluminação. O outro grupo, chamado de “grupo de controle” foi chamado para
trabalhar em uma intensidade de iluminação um pouco mais constante. O resultado
deste experimento foi o seguinte: a produtividade cresceu em ambos os grupos.
Era uma pesquisa de causa e efeito,
muito parecida com as de Taylor, pois, conforme afirma Faria (2007), enquanto
Taylor se preocupava com a economia dos tempos e dos movimentos e seus efeitos
sobre a qualidade de trabalho, a descrita por Mayo investia no estabelecimento
dos efeitos sobre a produtividade causados por condições externas aos
trabalhadores, mas presentes no processo de trabalho.
O fracasso da primeira pesquisa (as
relações de causa e efeito não surtiram explicações) levaram os pesquisadores a
investirem em uma segunda pesquisa em Hawthorne. Depois de várias tentativas e
erros, os pesquisadores descobrem que, no interior da organização fabril,
formam-se grupos, que agem conforme o grupo social em que estejam inseridos. Faria
(2007) afirma que a defesa dos interesses do grupo surge como prejudicial aos
interesses da empresa, levando os pesquisadores a proporem a criação de
instrumentos para gerir tais grupos informais, os quais deveriam ser buscados
no estudo dos problemas humanos e repassados a uma elite gerencial capaz de
implementá-los.
Sobre os aspectos humanos da
organização, destacamos alguns nomes que pelos seus trabalhos, contribuíram de
forma significativa para a construção da teoria das Relações Humanas. Um dos
nomes pioneiros no tema em comento foi Mary Parker Follett (1868–1933). Em um artigo seu
denominado “The giving of orders”,
que hoje é considerado uma leitura clássica no que diz respeito ao
comportamento organizacional, Follett (1926) identifica a necessidade de
conciliar o conflito inerente a um indivíduo entre resistir a receber ordens,
decorrente da animosidade natural sentida em relação ao “chefe”, e a
necessidade de seguir as ordens que sejam necessárias para se manter no
emprego. Follett (1926) afirma que tanto o empregador quanto o empregado devem
obedecer a lei da situação. Ambos
aceitam as ordens dadas pela situação. Follet (1926) afirma ainda que os gerentes devem saber que a situação não muda se não
começarmos uma mudança em nós mesmos.
Outro nome foi o de Chester I. Barnard
(1886-1961) que conforme Faria (2007) a concepção de Barnard a respeito do
comportamento humano indica que o indivíduo é um ser único, distinto. Banard
acreditava na hierarquia organizacional, na estrutura formal de autoridade e de
comunicação. Propõe uma definição de organização formal como um sistema de
atividades ou forças, de duas ou mais pessoas, conscientemente coordenadas.
A concepção de Douglas McGregor
(1906-1964) seguiu os pressupostos de Mayo acerca da necessidade de mudança na
postura dos administradores para obtenção de maior eficiência no processo de
gestão do trabalho. Faria (2007) afirma que McGregor (1960) vai investir no
desenvolvimento de formas mais sutis de dominação e exploração da força de
trabalho pela utilização de recursos ainda não imaginados pela energia criadora
do homem, após anos de investigação e pesquisas custosas. A proposta é abolir a
Teoria X, que propõe como método de direção a coerção e o controle rígido, por
uma teoria Y, que utiliza métodos liberais e justos para dirigir o
comportamento dos trabalhadores.
A concepção de Abraham H. Maslow
(1908-1970) veio se valer do estudo das necessidades humanas. Ainda hoje a
hierarquia das necessidades humanas é considerada importante pelas organizações
nos programas de motivação e treinamento gerencial, na medida em que ela se
fundamenta nos pressuposto de que todos os indivíduos são motivados por
necessidades; uma necessidade só pode ser satisfeita se a antecedente tiver
sido atendida; uma vez satisfeitas as necessidades primárias ou de primeiros
níveis, põe-se manter as de níveis mais elevados.
(MASLOW, 1954).
Faria (2007) conclui que torna-se
especialmente difícil não notar a presença dos mecanismos de controle sobre o
processo e as relações de trabalho pelos gestores na concepção humanista de
Mayo, Barnard, McGregor e seus seguidores. Tentativas de negar este fato têm
sido experimentadas sem êxito. No entanto, tanto a contribuição dos personagens
quanto dos experimentos realizados, permitiram uma conscientização e
entendimento mais completo do “fator humano” nas situações de trabalho.
Referências
BERTERO,
C. M. Algumas observações sobre a obra
de G. Elton Mayo. RAE – Revista de Administração de Empresas. São Paulo,
FGV, v. 8, n. 27, p. 73-95, out-dez, 1968.
FARIA,
José Henrique de. Economia política do
poder: uma crítica da teoria geral da administração. v. 2, Curitiba: Juruá
editora, 2007. p. 65-90 (Cap.7).
FOLLET, M. P. The
giving of orders. In: STEVEN, J. O. (Ed.) 2. ed. Classic readings in
organizational behavior. New York: ITP. p. 5-43.
ROETHLISBERGER, F. J. The Hawthorne experiments. In: STEVEN, J. O. (Ed.) 2. ed. Classic readings
in organizational behavior. New York: ITP, 1941. p. 35-44.
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